sexta-feira, 18 de novembro de 2011

QUANDO O MINISTÉRIO SE TORNA UM MAL...
Por G.M.Rocha
I Epistola de Pedro 5.1-4.
Inicialmente é preciso que antes de tudo se faça saber que não considero que o ministério seja algo desnecessário à igreja. Tenho como base do meu pensamento alguns textos do Novo Testamento onde os nossos estimados escritores deixaram registrados de forma muito clara e inconfundível qual a importância daqueles que trabalham pela santa causa do Evangelho de Cristo. Jesus Cristo, o maior exemplo de liderança em todos os tempos, investiu todo o seu tempo de ministério no treinamento de alguns homens, tendo como propósito imediato a edificação da igreja que seria formada logo após seu retorno aos céus e, ao mesmo tempo, visando o avanço de sua mensagem de esperança até os confins da terra.
Durante o primeiro século, sob a orientação desses homens extraordinários (e ao mesmo tempo com as mesmas fraquezas e paixões que nós), a igreja permaneceu coesa, irredutível, incorruptível, imbatível, tornando-se uma força tão poderosa e irresistível que como uma avalanche, varreu cidades inteiras fazendo recuar o mal por onde passava e onde chegava, ao ponto de, saindo dos lugares pobres da Judéia, chegar aos lares ricos de Roma. Para mim, está claro: Deus escolhe pessoas em todas as épocas para fazê-las cumprir seu propósito na terra, que é a evangelização e a edificação do seu corpo, a igreja.
Uma simples olhada, no entanto, no nosso sistema de ministério atual é o bastante para se perceber que há muito estamos nos distanciando do verdadeiro propósito de Cristo, quando deu à sua igreja pastores, evangelistas, apóstolos, mestres e profetas, e esse distanciamento diz respeito a alguns fatores que foram invertidos principalmente no mundo pentecostal e neo-pentecostal, conforme se observa no Brasil.
Em primeiro lugar, está o relacionamento obreiro-igreja. Na maioria dos casos, esse relacionamento se dá por meio de um principio que estabelece um nível de tratamento hierárquico, estando a igreja, no entanto inferior em ralação ao obreiro. Daí a maneira arrogante com se porta grande parte desse contingente de supostos representantes de Cristo. Vendo a si mesmos como superiores, tiram da congregação todo o direito que tem de pensar, questionar a legitimidade de sua autoridade e autoritarismo, seu direito de escolha, e passam a ditar todo tipo de regra, fazendo com que cada pessoa seja vigiada, controlada, subjugada, ficando assim totalmente imobilizada, sem condição de defesa, presa dentro de um esquema castrador, alienador, onde a única salvação não é o crer unicamente em Cristo, mas a subordinação absoluta àquele que se diz seu legitimo representante na terra.  Aqui, se invertem os fatores, uma vez que Jesus jamais planejou a sua igreja como sendo um grupo de vassalos que deve se subordinar de forma inconseqüente e incondicional a quem quer que seja.
Se analisarmos de perto o pensamento de Cristo a esse respeito, vamos ver que ele considerou esses tipos de líderes como sendo impostores, e nunca como seus representantes.  Num dos seus clássicos exemplos, Ele pergunta: “quem é maior, o que serve a mesa ou o que é servido”? A resposta é obvia: o que é servido, naturalmente. Se o que é servido é maior, então nos vem outra pergunta: qual a função do obreiro em ralação à igreja, Servir ou ser servido? Mais uma vez a resposta é muito clara: SERVIR. Se então a função do obreiro é servir, como pode o mesmo, de acordo com a lógica de Cristo ser maior que a igreja?
Partindo desse pressuposto, o que se impõe sobre cada obreiro é a responsabilidade de ver a si mesmo apenas como um servo humilde de Cristo, a quem foi dada a responsabilidade de aperfeiçoar sua igreja, levando-a ao amadurecimento, preparando-a como uma noiva para seu esposo. E o principio aqui estabelecido é de responsabilidade e serviço. Nada de estabelecer regras, as regras já foram estabelecidas pelo seu Senhor; nada de se colocar como superior, isso seria um ultraje ao seu Senhor, A CABEÇA E NOIVO DA IGREJA. O que se espera então de cada obreiro, é que esse observe com muito cuidado as instruções dadas por Cristo e seus apóstolos, para que com toda fidelidade – sem acrescentar ou diminuir uma vírgula ou um til – possa transmiti-las à igreja, fazendo-a conhecer a completa vontade de seu Senhor, para que possa viver no centro de sua vontade, mantendo assim a verdadeira esperança de poder encontrá-lo no dia de sua gloriosa vinda.
Um exame da primeira epistola de Pedro, vai mostrar que a relação obreiro-igreja, era uma de suas maiores preocupações. No capitulo cinco, ele estabelece três nãos que creio, devem nortear o pensamento de cada obreiro em cada época, sem nenhuma delimitação temporal ou espacial. A não observância dessas advertências com certeza transformará obreiros em instrumentos de destruição da fé.
Em primeiro lugar ele diz: “não por força”. O que Pedro entendia, era que nenhum obreiro deveria fazer algo para Deus, tendo isso como uma insuportável obrigação, à qual se pudesse de alguma forma escapar o faria com certeza. Convicção da chamada e desejo de entrega voluntaria, deveria ser as forças motivadoras de cada servo que quisesse se entregar ao serviço do ministério.
No nosso caso, é comum, encontrarmos pessoas no ministério, motivados apenas por duas forças. Primeiro, um medo infundado de ser punido por Deus, caso não continue no ministério. Por ultimo, a falta de capacidade de ganhar um salário compatível, caso tenha que deixar o ministério. Nesse caso, não existe nem convicção da chamada, nem voluntariedade, (o que deveria levar tais pessoas a forçosamente rever suas verdadeiras motivações ou abandonar o mais urgente possível o ministério). Pelo que vemos, no entanto, parece ser mais fácil se atravessar o atlântico num barco de papel, que isso vir  a acontecer, o que é uma pena pelo prejuízo que tal comportamento tem causado, tanto à igreja como à sociedade em todos os tempos.
Ainda, Pedro cita o seu segundo não: “não por torpe ganância”. Ou seja, que nenhum servo a quem foi dada tal responsabilidade coloque o lucro como fonte motivadora de suas ações como o fazem os capitalistas na atualidade. Que nenhum obreiro olhe para cada pessoa a quem Deus lhe confiou, tendo um cifrão em cada olho.
Na verdade, o fator finanças tem sido em todos os tempos o ponto sensível do cristianismo. Desde o dia dos apóstolos, a possibilidade de lucro fácil tem sido o mel da atração de abelhas e moscas no reino de Deus. A forma massificadora com que nos dias atuais, as pessoas são instruídas a usarem o dinheiro como forma de obterem alguma graça diante de Deus desde sua conversão, acaba por lhes tirar todo poder de defesa diante daqueles que vêem na igreja uma possibilidade de lucro fácil e certo, e uma possibilidade de rápido enriquecimento. Pedro, sabendo dessa vulnerabilidade do povo que crê, advertiu os crentes de sua época, “por ganância farão de vós negocio, com palavras fingidas”.
Quando damos uma olhada na história da igreja nesses dois mil anos percebemos o quanto essa advertência precisa ser levada a sério por cada crente ainda hoje. Nos nossos dias a ganância não tem limites. Basta que se observe que a maioria das igrejas pentecostais é composta de pessoas da classe trabalhadora, no entanto muitos líderes de igreja recebem salários bem maiores que o da Presidência da Republica, justificando essa atitude escandalosa com textos extraídos das sagradas escrituras, sem levar em consideração todo o seu contexto, e o pior, é que essas pessoas, quando lêem textos como esse que citei, fazem vista grossa, como se não lhes dissessem nenhum respeito.
Aqui na Bahia, por exemplo, temos vários líderes assembleianos “pastoreando” igrejas onde a maioria das pessoas que as freqüenta é composta por pessoas que ganham no máximo dois salários por mês, (para pagar água, energia, aluguel muitas vezes, entre outros), e, no entanto, esses líderes recebem em média 20, 25 e até mais de trinta salários mensais livre de água, casa, carro, combustível, viagens e outras coisas mais e ainda acham isso a coisa mais natural, pois afinal são os “ungidos do Senhor”. 
O pior de tudo é que diante de todos esses desmandos se encontra um povo submisso, manipulado, subjugado, dominado, alienado, paralisado, que perdeu – se é que algum dia teve – toda condição de se indignar e reagir diante desses absurdos. Por outro lado existe um ministério local passivo, dormente, hipócrita e inconsequente que aprova essa atitude promíscua que na maioria das vezes nem chega ao conhecimento do povo pelo simples fato de muitos desses que compõem tal ministério, viver a sonhar com o dia em que também alcançarão tal posto “honroso”, ou por temer – o que é mais real – serem preteridos ou perseguidos como “rebeldes” e inimigos do pastor. Enquanto isto, a igreja de Cristo vai se desgastando na nossa “pátria amada idolatrada” e criando uma multidão de desiludidos com a fé (como se não bastasse os desiludidos com os políticos e a politica), ao mesmo tempo em que nossos “ungidos” vão vivendo, ao contrário dos santos Apóstolos, a vida de "príncipes do Senhor" acumulando de forma lastimável seus tesouros terrenos, pois, afinal de contas, é preciso mostrar para esse mundo que nem sempre é possível confiar em promessas além túmulo.
Assim, por detrás de um discurso moralista – na maioria das vezes – esses lobos travestidos de ovelhas, ou melhor, pastores, ignoram o quanto sua ganância tem sido letal para essa geração que começa a viver. Me lembro de que há algum tempo ouvi pessoas não evangélicas indignadas com o que perceberam antes de nós, nos confrontar dizendo uma frase interessante “pequenas igrejas, grandes negócios”. Esse jargão, criado a partir de outro de um programa voltado para a classe empresarial que dizia “pequenas empresas grandes negócios”, ganhou uma conotação negativa, e, foi encarado por mim como mais uma forma de perseguir o povo do Senhor, hoje porem vejo que na realidade, devido nossa paixão religiosa, por muito tempo, fechamos os olhos para uma questão tão séria e tão escancarada que até mesmo os não crentes já estavam cansados de perceber. Talvez alguém me encare como mais um perseguidor gratuito, porem o que busco não é destruir a obra de Deus no nosso País, e sim, contribuir de alguma forma para que a igreja brasileira volte a ser pastoreada por homens que não se acostumaram a confundir a igreja com uma empresa, o púlpito com o balcão, a mensagem com uma mercadoria, nem o povo com consumidores. Que os gananciosos que querem fazer “negocio de vós” sejam desmascarados, para que o nome de Cristo seja em tudo exaltado, pois afinal os homens de Deus, devem pastorear o rebanho de Deus "Não por torpe ganância", diz Pedro. Amem!



(o último "não" ficará para a próxima postagem)

8 comentários:

DependentedeDeus disse...

Parabéns pelo post,gostei muito,realmente ñ podemos nos acomodar com esse sistema q de certa forma suga muito dinheiro dos fieis e que poderia ser investido em outras coisas.Somente peço que o senhor tenha cuidado com as referências que faz,não pq sou assembleiano mas não convém citar denominações,por favor,não é pq o senhor saiu da assembleia q vai começar a "denunciar" seus líderes ao público.Entrei nesse site através do facebook,outras pessoas farão o mesmo.Pelo respeito que q acho q senhor ainda tem por essa igreja retire o termo "líderes asembleianos",mas o restante ta muito bom mas com esse termo fica como se somente na asembleia acontece isso,pq o senhor não citou o nome das outras igrejas pentencostais?Fique na paz de Deus.

Carlos Eduardo P.S disse...

Muito boa essa matéria,infelizmente não aprendemos ainda a nos rebelar,revoltar,seja por medo acomodação ou espera de um milagre,com esse sistema na igreja q visa mais o lucro do que as almas,que é nosso principal alvo.Que Deus possa ter misericórdia de nós!

Gilvan Monteiro da Rocha disse...

Caro Dependente de Deus, entendo perfeitamente a tua preocupação. Tenho tido a preocupação de não citar nomes de pessoas, pois essa não é minha intenção. quero apenas chamar a atenção do povo de Deus para algo que passou da hora de mudar. quanto ao que você disse que "não é pq o senhor saiu da assembleia q vai começar a "denunciar" seus líderes ao público", tenho três coisas a esclarecer: primeiro, de modo algum sai da Assembleia de Deus. o que fiz foi mudar de convenção estadual. No País existem dezenas de Convenções Estaduais; segundo, o que estou expondo aqui não é algo novo. Há aproximadamente 10 anos que venho tentando chamar a atenção para esses fatos; terceiro, não estou expondo líderes, eles é que se expuseram, a partir do momento em que passaram a sacrificar os interesses de Deus sobre o altar dos seus próprios interesses. creio que se Paulo, Pedro, Tiago ou o próprio Cristo estivessem aqui fariam o mesmo que estou fazendo. Basta que se dê uma olhadinho nos Evangelhos e Epístolas... No mais agradeço a Deus por pessoas como você que demonstra grande Respeito pela Causa de Cristo. Um Abraço!

Gilvan Monteiro da Rocha disse...

Caro Carlos Eduardo, não tenho dúvida de que o fato de termos pessoas incomodadas com tal situação é com certeza um grande sinal de que a misericórdia do Senhor está se manifestando em nosso País. somente a partir do reconhecimento do nosso real estado é que poderemos abrir as portas para um grande mover do Espírito Santo... Um abraço!

Dependente de Deus disse...

acho q ñ fui muito claro,a questão ñ é expor os líderes mas sim o nome da denominação,isso é uma indiscrição,o senhor tem suas opinioes e razões mas expor em um blogger o nome dessa denominaçao de forma negativa é um equívoco.

Gilvan Monteiro da Rocha disse...

Prezado "Dependente de Deus", quero primeiro dizer que você é muito bem vindo nesse blog, apesar do "anonimato" fique à vontade, é um direito seu.quero poreem lhe responder alugas de suas indagações;
voce diz:
"com esse termo (líderes assembleianos) fica como se somente na asembleia acontece isso,pq o senhor não citou o nome das outras igrejas pentencostais"? Imagino que esse não é um problema só da Assembléia de Deus, mas de muitas outras igrejas no Brasil. Porém, por ser membro dessa igreja desde 1989, e ministro desde 2002, tenho mais propriedade para falar dessa forma; por outro lado, entendo já passou da hora de pararmos com aquela velha mania de tentar mostrar os erros dos outros, enquanto escondemos os nossos, afinal é preciso, para se tirar o cisco do olho aleio, se tirar a trave do próprio olho. por último, condenar os vícios e os viciados de uma instituição, não é , de forma alguma condenar essa instituição, e sim purificá-la de seus corpos estranhos.

"o senhor tem suas opinioes e razões mas expor em um blogger o nome dessa denominaçao de forma negativa é um equívoco".

Estou apenas expondo em um blog, pessoas que tem exposto no Brasil e no mundo não só a nossa instituição, como também a fé cristã e o próprio nome de Cristo. Qual o pior?
No mais diria as palavras de Voltaire: "posso não concordar com uma só palavra que dizes, más defenderei até a morte o direito de dizê-la". Fique com Deus!

Fernando Evencio disse...

Shalon nobre.Concordo com o que foi postado. A bíblia diz: Vós sois cartas escritas e lidas pelos Homens.Tudo o que escrevemos damos o direito dos outros lerem.li o comentário do amigo,que não gostou de ver mensionar o nome da denominação,e líderes, da ASS DE DEUS. MEU PENSAMENTO É: QUE A UNICA COISA QUE MEU NOBRE PENSADOR ESTÁ FAZENDO, É UMA LEITURA EM PÚPLICO, DAQUILO QUE FOI ESCRITO DEBAIXO, DOS PANOS....

NOSSO ALVO É CRISTO disse...

A questao é, se alguém nao gostou de alguma coisa que foi escrito por essa postagem é porque deve ser um RELIGIOSO sentiu-se doer quando falou da Assémbleia de Deus. Vamos na verdade é unirmos pra acabar com essa vergonha de fazer o templo de Deus lugar de comércio,porque Deus nos chamou pra fazermos discípulo e mostrar o seu amor pra com as pessoa e nao clientes ou empresários mostrando que abrir uma igreja é a melhor forma de se ganhar dinheiro, como muitos nao evangélicos estao dizendo "abrem igreja so pra ganhar dinheiro ".Eu fico com vergonha de ouvir essa frase! vamos nos unir e acabar com essa vergonha nas igrejas, o nosso ALVO É SALVAR VIDAS PARA O REINO DE DEUS !PARABÉNS PASTOR GIOVAN há muitos pensando como o senhor + nao tem coragem de falar oque pensam .