sábado, 26 de novembro de 2011

UMA NOVA FORMA DE SE VENCER O DEVORADOR

Por G.M. Rocha

Vencer o devorador parece ser o principal objetivo da maioria dos evangélicos brasileiros. Esse inimigo das nossas “vitórias” exige – nesses tempos de tanta insegurança e instabilidade, de tantas mudanças rápidas próprias do nosso mundo pós-moderno ou da nossa modernidade tardia, como dizem outros – que tenhamos uma posição firme e uma atitude de fé para sermos cristãos triunfantes. Diante desse mundo capitalista e dessa sociedade de consumo só existe uma forma de mostrarmos às pessoas incrédulas de nossa geração porque devem acreditar em nosso Deus: triunfando economicamente.

Afinal, esse povo não quer saber de mensagem sobre salvação, arrebatamento, arrependimento, novo nascimento, humildade, amor ao próximo... Tudo isso é coisa do passado. Alimento para ignorantes e atrasados. Os pecadores precisam mesmo é ver “os sinais da benção de Deus” em nós. Afinal o que nos identifica como discípulos de Cristo, não é o amor ao próximo, virtudes cristãs, socorro aos necessitados, novo nascimento, e sim nossos carrões, casarões, roupas de grifes, rolex, tudo isso que antes era a marca de uma sociedade desigual a injusta, mas que agora descobrimos que era tudo ilusão de crentes ignorantes.
Acontece que apesar de hoje sabermos que necessitamos de tudo isso para nos tornarmos um verdadeiro testemunho de Deus aqui na terra, convivemos com um imenso obstáculo a ser superado, um terrível inimigo do povo do Senhor. Como se chama ele? Devorador. Isso mesmo! D-e-v-o-r-a-d-o-r.

Na verdade esse inimigo só se compraz em perseguir e atacar os servos do Senhor. No Japão, por exemplo, uma nação xintoísta e budista na sua maioria absoluta, não teve problemas com ele. Prosperou. Ah! Mas apesar de investir em educação, e do muito esforço, o que por sinal, não é bem o nosso costume por essas bandas, a verdadeira razão dessa prosperidade é que, como disse, esse tal de d-e-v-o-r-a-d-o-r só se compraz em perseguir e atacar o povo de Deus.

Bem, o certo é que muitos que vivem preocupados com essa tão séria questão encontraram diversas “formulas” para deter esse bicho infeliz. Se não, vejamos os seus sábios conselhos:

1.    Faça uma campanha da prosperidade;

2.    Seja fiel nos dízimos e ofertas (o que creio que devemos fazer mas por outros motivos. vejam abaixo);

3.    Certifique-se de que aquele que recebeu os seus pedidos de oração esteja disposto a queimá-los em um monte muito alto, de preferência no Sinai, onde inevitavelmente estará bem mais perto de Deus;

4.    Faça um sacrifício financeiro: vale tudo, desde vender casa, carro, dar cheque pré-datado, cartão de crédito... No começo você pode até ficar mais pobre, mas no final (sabe-se lá quando) você não vai ter onde guardar as bênçãos...

Foi então que pensando muito nesse tão importante assunto que no barulho do meu velho computador, depois de alguns anos de estudo do Novo Testamento e analise da nossa sociedade, que percebi algumas formulas para um viver vitorioso, e ai vão elas:

1.    Estude, estude muito, prepare-se para ser um bom profissional, ou empreendedor;

2.   Entenda que no nosso mundo a principal causa da pobreza está no mundo físico: políticos corruptos que desviam as verbas, injustiça e desigualdade social, falta de capacitação profissional, capitalismo predatório, falta de amor e respeito ao próximo, e isso exige muito esforço para os que querem se erguer social e economicamente;

3.    Proteja sua mente de falsas crenças a respeito de Deus. Se existe de fato um devorador dos bens dos Cristãos porque nem O Senhor nem os Apóstolos nos disseram nada a respeito? Os Cristãos do Novo Testamento contribuíam não para se alcançar privilégios diante de Deus, ou alguma vitória contra o devorador, e sim para a expansão do evangelho e socorro aos necessitados, o que na atualidade a avareza e o individualismo nos impedem de fazê-lo. (At cap. 1-6; ICo cap. 9; II Co cap.8,9). Cuidado! O devorador pode estar no púlpito!

4.    Lembre-se que a única garantia que o Senhor nos deu para nossa vida na terra foi de suprir nossas necessidades básicas à vida (Mt 6. 25-34), ainda que não nos tenha dado nenhuma proibição quanto ao crescimento econômico.

5.    Por último, temos os conselhos dos economistas: cuidado com o CONSUMISMO! pois, aqui está a nossa maior causa de endividamento, esse sim, pode ser um devorador. Faz que gastemos mais do que ganhamos.

No mais, pode ir à igreja e adorar a Deus tranquilamente, pois o que precisamos mesmo não é que Deus nos livre de um suposto d-e-v-o-r-a-d-o-r de bens perecíveis, mas de termos uma alma totalmente segura de que nasceu de novo e já experimenta uma nova vida em Cristo. Quanto as questões econômicas, poderemos com muito trabalho, esforço, inteligência, economia do que ganhamos, conquistar, sabendo que iremos usufruir disso só por um breve momento, pois a nossa verdadeira habitação está no céu, “donde também esperamos o nosso senhor Jesus Cristo” (Paulo). Amem! No mais, Tudo na santa Paz.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Porque Eu Odeio Religião Mark Driscoll

Nesse vídeo, em apenas dez minutos, é possível ter uma ideia interessante do que venho tentando dizer em minhas pregações, e que há muito tem sido dito por milhares de pregadores nos dois mil anos de História Cristã. Perceber a diferença abismal que há entre fé cristã e mera religiosidade é, simplesmente, ter uma visão privilegiada da vontade de Deus sem os filtros dos interesses humanos de dominação. Ser Cristão é muito mais que ser religioso... Que o maior número de Cristãos vejam esse Vídeo

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

QUANDO O MINISTÉRIO SE TORNA UM MAL...
Por G.M.Rocha
I Epistola de Pedro 5.1-4.
Inicialmente é preciso que antes de tudo se faça saber que não considero que o ministério seja algo desnecessário à igreja. Tenho como base do meu pensamento alguns textos do Novo Testamento onde os nossos estimados escritores deixaram registrados de forma muito clara e inconfundível qual a importância daqueles que trabalham pela santa causa do Evangelho de Cristo. Jesus Cristo, o maior exemplo de liderança em todos os tempos, investiu todo o seu tempo de ministério no treinamento de alguns homens, tendo como propósito imediato a edificação da igreja que seria formada logo após seu retorno aos céus e, ao mesmo tempo, visando o avanço de sua mensagem de esperança até os confins da terra.
Durante o primeiro século, sob a orientação desses homens extraordinários (e ao mesmo tempo com as mesmas fraquezas e paixões que nós), a igreja permaneceu coesa, irredutível, incorruptível, imbatível, tornando-se uma força tão poderosa e irresistível que como uma avalanche, varreu cidades inteiras fazendo recuar o mal por onde passava e onde chegava, ao ponto de, saindo dos lugares pobres da Judéia, chegar aos lares ricos de Roma. Para mim, está claro: Deus escolhe pessoas em todas as épocas para fazê-las cumprir seu propósito na terra, que é a evangelização e a edificação do seu corpo, a igreja.
Uma simples olhada, no entanto, no nosso sistema de ministério atual é o bastante para se perceber que há muito estamos nos distanciando do verdadeiro propósito de Cristo, quando deu à sua igreja pastores, evangelistas, apóstolos, mestres e profetas, e esse distanciamento diz respeito a alguns fatores que foram invertidos principalmente no mundo pentecostal e neo-pentecostal, conforme se observa no Brasil.
Em primeiro lugar, está o relacionamento obreiro-igreja. Na maioria dos casos, esse relacionamento se dá por meio de um principio que estabelece um nível de tratamento hierárquico, estando a igreja, no entanto inferior em ralação ao obreiro. Daí a maneira arrogante com se porta grande parte desse contingente de supostos representantes de Cristo. Vendo a si mesmos como superiores, tiram da congregação todo o direito que tem de pensar, questionar a legitimidade de sua autoridade e autoritarismo, seu direito de escolha, e passam a ditar todo tipo de regra, fazendo com que cada pessoa seja vigiada, controlada, subjugada, ficando assim totalmente imobilizada, sem condição de defesa, presa dentro de um esquema castrador, alienador, onde a única salvação não é o crer unicamente em Cristo, mas a subordinação absoluta àquele que se diz seu legitimo representante na terra.  Aqui, se invertem os fatores, uma vez que Jesus jamais planejou a sua igreja como sendo um grupo de vassalos que deve se subordinar de forma inconseqüente e incondicional a quem quer que seja.
Se analisarmos de perto o pensamento de Cristo a esse respeito, vamos ver que ele considerou esses tipos de líderes como sendo impostores, e nunca como seus representantes.  Num dos seus clássicos exemplos, Ele pergunta: “quem é maior, o que serve a mesa ou o que é servido”? A resposta é obvia: o que é servido, naturalmente. Se o que é servido é maior, então nos vem outra pergunta: qual a função do obreiro em ralação à igreja, Servir ou ser servido? Mais uma vez a resposta é muito clara: SERVIR. Se então a função do obreiro é servir, como pode o mesmo, de acordo com a lógica de Cristo ser maior que a igreja?
Partindo desse pressuposto, o que se impõe sobre cada obreiro é a responsabilidade de ver a si mesmo apenas como um servo humilde de Cristo, a quem foi dada a responsabilidade de aperfeiçoar sua igreja, levando-a ao amadurecimento, preparando-a como uma noiva para seu esposo. E o principio aqui estabelecido é de responsabilidade e serviço. Nada de estabelecer regras, as regras já foram estabelecidas pelo seu Senhor; nada de se colocar como superior, isso seria um ultraje ao seu Senhor, A CABEÇA E NOIVO DA IGREJA. O que se espera então de cada obreiro, é que esse observe com muito cuidado as instruções dadas por Cristo e seus apóstolos, para que com toda fidelidade – sem acrescentar ou diminuir uma vírgula ou um til – possa transmiti-las à igreja, fazendo-a conhecer a completa vontade de seu Senhor, para que possa viver no centro de sua vontade, mantendo assim a verdadeira esperança de poder encontrá-lo no dia de sua gloriosa vinda.
Um exame da primeira epistola de Pedro, vai mostrar que a relação obreiro-igreja, era uma de suas maiores preocupações. No capitulo cinco, ele estabelece três nãos que creio, devem nortear o pensamento de cada obreiro em cada época, sem nenhuma delimitação temporal ou espacial. A não observância dessas advertências com certeza transformará obreiros em instrumentos de destruição da fé.
Em primeiro lugar ele diz: “não por força”. O que Pedro entendia, era que nenhum obreiro deveria fazer algo para Deus, tendo isso como uma insuportável obrigação, à qual se pudesse de alguma forma escapar o faria com certeza. Convicção da chamada e desejo de entrega voluntaria, deveria ser as forças motivadoras de cada servo que quisesse se entregar ao serviço do ministério.
No nosso caso, é comum, encontrarmos pessoas no ministério, motivados apenas por duas forças. Primeiro, um medo infundado de ser punido por Deus, caso não continue no ministério. Por ultimo, a falta de capacidade de ganhar um salário compatível, caso tenha que deixar o ministério. Nesse caso, não existe nem convicção da chamada, nem voluntariedade, (o que deveria levar tais pessoas a forçosamente rever suas verdadeiras motivações ou abandonar o mais urgente possível o ministério). Pelo que vemos, no entanto, parece ser mais fácil se atravessar o atlântico num barco de papel, que isso vir  a acontecer, o que é uma pena pelo prejuízo que tal comportamento tem causado, tanto à igreja como à sociedade em todos os tempos.
Ainda, Pedro cita o seu segundo não: “não por torpe ganância”. Ou seja, que nenhum servo a quem foi dada tal responsabilidade coloque o lucro como fonte motivadora de suas ações como o fazem os capitalistas na atualidade. Que nenhum obreiro olhe para cada pessoa a quem Deus lhe confiou, tendo um cifrão em cada olho.
Na verdade, o fator finanças tem sido em todos os tempos o ponto sensível do cristianismo. Desde o dia dos apóstolos, a possibilidade de lucro fácil tem sido o mel da atração de abelhas e moscas no reino de Deus. A forma massificadora com que nos dias atuais, as pessoas são instruídas a usarem o dinheiro como forma de obterem alguma graça diante de Deus desde sua conversão, acaba por lhes tirar todo poder de defesa diante daqueles que vêem na igreja uma possibilidade de lucro fácil e certo, e uma possibilidade de rápido enriquecimento. Pedro, sabendo dessa vulnerabilidade do povo que crê, advertiu os crentes de sua época, “por ganância farão de vós negocio, com palavras fingidas”.
Quando damos uma olhada na história da igreja nesses dois mil anos percebemos o quanto essa advertência precisa ser levada a sério por cada crente ainda hoje. Nos nossos dias a ganância não tem limites. Basta que se observe que a maioria das igrejas pentecostais é composta de pessoas da classe trabalhadora, no entanto muitos líderes de igreja recebem salários bem maiores que o da Presidência da Republica, justificando essa atitude escandalosa com textos extraídos das sagradas escrituras, sem levar em consideração todo o seu contexto, e o pior, é que essas pessoas, quando lêem textos como esse que citei, fazem vista grossa, como se não lhes dissessem nenhum respeito.
Aqui na Bahia, por exemplo, temos vários líderes assembleianos “pastoreando” igrejas onde a maioria das pessoas que as freqüenta é composta por pessoas que ganham no máximo dois salários por mês, (para pagar água, energia, aluguel muitas vezes, entre outros), e, no entanto, esses líderes recebem em média 20, 25 e até mais de trinta salários mensais livre de água, casa, carro, combustível, viagens e outras coisas mais e ainda acham isso a coisa mais natural, pois afinal são os “ungidos do Senhor”. 
O pior de tudo é que diante de todos esses desmandos se encontra um povo submisso, manipulado, subjugado, dominado, alienado, paralisado, que perdeu – se é que algum dia teve – toda condição de se indignar e reagir diante desses absurdos. Por outro lado existe um ministério local passivo, dormente, hipócrita e inconsequente que aprova essa atitude promíscua que na maioria das vezes nem chega ao conhecimento do povo pelo simples fato de muitos desses que compõem tal ministério, viver a sonhar com o dia em que também alcançarão tal posto “honroso”, ou por temer – o que é mais real – serem preteridos ou perseguidos como “rebeldes” e inimigos do pastor. Enquanto isto, a igreja de Cristo vai se desgastando na nossa “pátria amada idolatrada” e criando uma multidão de desiludidos com a fé (como se não bastasse os desiludidos com os políticos e a politica), ao mesmo tempo em que nossos “ungidos” vão vivendo, ao contrário dos santos Apóstolos, a vida de "príncipes do Senhor" acumulando de forma lastimável seus tesouros terrenos, pois, afinal de contas, é preciso mostrar para esse mundo que nem sempre é possível confiar em promessas além túmulo.
Assim, por detrás de um discurso moralista – na maioria das vezes – esses lobos travestidos de ovelhas, ou melhor, pastores, ignoram o quanto sua ganância tem sido letal para essa geração que começa a viver. Me lembro de que há algum tempo ouvi pessoas não evangélicas indignadas com o que perceberam antes de nós, nos confrontar dizendo uma frase interessante “pequenas igrejas, grandes negócios”. Esse jargão, criado a partir de outro de um programa voltado para a classe empresarial que dizia “pequenas empresas grandes negócios”, ganhou uma conotação negativa, e, foi encarado por mim como mais uma forma de perseguir o povo do Senhor, hoje porem vejo que na realidade, devido nossa paixão religiosa, por muito tempo, fechamos os olhos para uma questão tão séria e tão escancarada que até mesmo os não crentes já estavam cansados de perceber. Talvez alguém me encare como mais um perseguidor gratuito, porem o que busco não é destruir a obra de Deus no nosso País, e sim, contribuir de alguma forma para que a igreja brasileira volte a ser pastoreada por homens que não se acostumaram a confundir a igreja com uma empresa, o púlpito com o balcão, a mensagem com uma mercadoria, nem o povo com consumidores. Que os gananciosos que querem fazer “negocio de vós” sejam desmascarados, para que o nome de Cristo seja em tudo exaltado, pois afinal os homens de Deus, devem pastorear o rebanho de Deus "Não por torpe ganância", diz Pedro. Amem!



(o último "não" ficará para a próxima postagem)