sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ENTRE PARASITAS E ABUTRES



Por G.M.Rocha


“ESSES REPÓRTERES SÃO UNS PARASITAS”. Assim se expressou um cristão evangélico que conversava comigo outro dia a respeito de uma matéria veiculada por uma emissora de TV que tinha como centro o resultado de uma série de investigações do MP sobre a liderança de uma suposta igreja evangélica, nas quais se constatavam diversas irregularidades e indícios de fraudes e corrupção, inclusive na forma de recolher e aplicar o dinheiro dos fieis.

Essa matéria causou grande escândalo e indignação em diversos cristãos sinceros que acreditam na verdade do Evangelho de Cristo, mas que nesse brasilzão de meu Deus, devido aos escândalos constantes protagonizados por supostos ministros de Cristo (inclusive escândalos de dar inveja na turma do Congresso), sofrem como se estivessem sendo pregados, por esses indivíduos, na horrenda cruz com o seu Cristo.

Ao ouvir essas palavras que expressavam a indignação daquele irmão com o que imaginava se tratar de uma perseguição de ímpios ao humilde povo do Senhor, respondi-lhe que aqueles repórteres não deveriam ser comparados aos parasitas, e sim aos abutres, e expliquei-lhe por que: Parasitas são os que matam o corpo, não os que se alimentam dele depois de morto. Esse é um serviço dos abutres.

Essa poderia ter sido mais uma dessas conversas que esquecemos rapidamente. Porem, durante vários meses tenho pensado na profundidade desse assunto, portanto pretendo analisá-lo aqui com mais carinho.

Em primeiro lugar, é necessário que se diga alguma coisa a respeito das funções dos parasitas e dos abutres. Sabe-se que existem varias espécies de abutres, que no geral são aves de rapina, sarcófagas, as quais se alimentam em sua maioria, de corpos em estado de putrefação, existiam em grandes quantidades na palestina e estavam na relação das aves imundas no Antigo Testamento (Levítico 11.14).

Os parasitas, por sua vez são de ordem animal ou vegetal que vivem retirando a seiva ou os nutrientes de outro ser. Alguns dependem do hospedeiro só por um período, outros vivem no hospedeiro por toda a vida; no geral, o parasita é sempre beneficiado e o seu hospedeiro sempre prejudicado, podendo, em muitos casos chegar à morte.  

Dessa forma, parasitas e abutres, longe de serem inimigos e adversários,  eles se completam.
O que há de abominável com os abutres, é que eles vivem sempre dependendo da morte de algo ou alguém para que se possa alimentar. A morte do outro é motivo de festa para ele. No geral ele não mata, mas espera que algo ou alguém morra.

Penso, no entanto que o parasita é um milhão de vezes mais abominável que o abutre, pois provoca a morte daquele que o alimenta. Ele é profundamente egoísta, não tem respeito, nem misericórdia, pois a única coisa que busca é a satisfação do seu insaciável e diabólico apetite.

Assim vejo a relação entre a igreja e a mídia brasileira. Quase que diariamente escândalos e mais escândalos no seguimento evangélico ajudam a aumentar as disputas por pontos tão almejados pela alienante e massificadora TV brasileira. Ao mesmo tempo, milhares de cristãos que amam verdadeiramente a Cristo, e milhares de lideres sinceros são afrontados diariamente por pessoas que os confundem com esses inimigos do reino, travestidos de ministros de Cristo, por não terem aprendido que existe diferença entre o joio e o trigo, apesar de se parecerem.

Apesar de tudo isto, penso que nossa maior preocupação não deve ser com a mídia (abutres) e sim com os parasitas (falsos lideres), pois esses, infiltrados nesse grande corpo que é composto pelas Igrejas Evangélicas Brasileiras, o agridem, violentam, sugam, debilitam, chucham, exploram, deploram-no e matam-no, ao mesmo tempo em que dele dependem e dele se alimentam.

Esses indivíduos não têm sede de justiça, mas de enriquecimento; não estão preocupados com tesouro no céu, e sim acumulo de riquezas na terra; não têm a preocupação com a pregação do reino de Deus, e sim a divulgação do seu prestigio pessoal; não estão preocupados em usar coisas para ajudar e salvar pessoas, e sim em usar pessoas para adquirir mais coisas; não vêem o evangelho como as boas novas de Cristo, mas como um produto mercadológico, o qual deve ser o mais atrativo possível aos numerosos e exigentes clientes (eles dizem fiéis).

Em uma situação como esta, como pode esse corpo não adoecer e não morrer? A igreja brasileira precisa urgentemente de remédio, necessita urgentemente da pregação sadia da palavra de Deus.

Portanto, quando os abutres (mídia) estiverem sobrevoando algum cadáver (instituição evangélica) não seria um bom negocio condená-los, pois, se eles fazem festa é porque antes de tudo os parasitas (falsos ministros) já cumpriram seu papel, matando o corpo que os alimentou.

 Antes de nos preocupar com a festa dos abutres (nossos inimigos externos) seria bem melhor se nos empenhássemos em detectar, desmascarar e combater os numerosos parasitas (que são nossos inimigos internos), pois sem parasitas, abutres dificilmente têm de que se alimentar.




Fonte das imagens:
Parasitas:  http://www.flickr.com/photos/phzioli/3196038971/lightbox/
Abutres: http://pt.dreamstime.com/abutres-que-deleitam-se-no-carrion-thumb8765519.jpg


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PORTO IN-SEGURO, UM RETRATO DO BRASIL

Por G.M.Rocha
             Fonte das imagens: http://www.google.com.br

Era início da tarde de quarta-feira, dia 30 de novembro, eu, minha irmã e minha sobrinha de cinco anos, estávamos voltando da cidade de Porto Seguro, saindo do bairro mais conhecido como Baianão em direção à rodovia de acesso a Eunápolis, quando nos deparamos com uma situação, que jamais imaginávamos aconteceria tão perto de nós e muito menos que algum dia iríamos conviver com tal episodio de terror. Estou falando da onda de violência ocorrida nessa cidade naquele dia.

Más o que isso tem a ver conosco? Muita coisa. Enquanto transitávamos por aquela rua sempre movimentada, não nos demos conta que naquele momento éramos os únicos transeuntes. Quando nos deparamos com um ônibus parado e um grupo de homens armados que gritavam muito. Inicialmente pensei que se tratava de uma blitz policial, em seguida pensei que se tratava de um assalto, assim não tentei qualquer reação, mas logo em seguida foi que contastei que aqueles rapazes iriam incendiar o ônibus, e isso aumentou o nosso desespero.

Pior, após terem jogado gasolina no ônibus jogaram o resto de combustível contra o nosso carro e em seguida atearam o fogo no ônibus. Ficamos no carro presenciando toda aquela ação, e tomados pelo desespero não podíamos fazer nada, pois minha preocupação era que eles interpretassem mal nossa reação e atirassem contra nós. Tivemos que esperar que eles se retirassem, e assim que começaram a fugir, saímos do carro e corremos pensando em nossa segurança, por imaginar que o fogo logo tomaria conta de tudo, mas o fogo foi crescendo de forma um tanto lenta, e logo as ruas se encheram de pessoas, foi que voltei ao local e tive tempo de tirar o veículo. Foram poucos minutos, mas que pareciam eternos.

Esse acontecimento que me fez naquele momento ter um sentimento de desespero, impotência e total inseguração, me fez ver de perto que nenhum de nós está seguro nesse Pais. Como também me uniu emocionalmente a milhares de brasileiros que pagam seus impostos, vivem honestamente, ajudam a construir essa nação, mas tem que conviver todos os dias com esse sentimento de impotência, com o medo, o desespero, a insegurança, e o pior, devido à situação de extrema corrupção da classe política, conviver com a falta de esperança de que algum dia teremos um País do qual possamos realmente nos orgulhar.

Porem, não quero desperdiçar esse momento em lamurias e lamentações, mas aproveitá-lo para refletir sobre a nossa situação e ao mesmo tempo pensar em possibilidades de mudanças reais.

Primeiro não quero discutir se Porto é realmente Seguro, ou se o Brasil é seguro, isso está aí prá todo mundo ver. Basta que se olhem as estatísticas, para se constatar que o brasileiro convive todos os dias com um alto índice de violência. As mortes no transito provocadas por motoristas bêbados e irresponsáveis, mortes por arma de fogo e outras armas letais, que colocam o Brasil em situação muito pior que muitos países que estão em guerra.

E o pior é que quase todo brasileiro trás em seu imaginário a crença infundada, ou melhor, fabricada, de que vivemos em um País pacifico onde não existem guerras, habitado por um povo feliz, ordeiro, hospitaleiro, e trabalhador, um povo guerreiro que não desiste nunca dos seus objetivos, um povo capaz de superar e vencer as maiores barreiras, e por aí vai...  

Mas a verdade é que existe um Pais real que é bem diferente desse País do discurso Político.  Desde o episódio, li algumas matérias, e percebi que o discurso da nossa mídia, no geral, tentou colocar toda culpa nos indivíduos que colocaram fogo naqueles ônibus, o que não consegui ver foram jornais que lidassem com a questão tentando analisar os fatores sociais e políticos desse acontecimento.

Como uma das pessoas que conviveu de perto com essa situação, fiquei a imaginar, por exemplo, que muitos daqueles jovens ainda não haviam nascido quando do nascimento da nossa tão sonhada Democracia. Não quero aqui defender suas ações, de forma alguma, mas dizer que esses rapazes não nasceram bandidos. Muitos de seus pais são pessoas honestas que com certeza estão sofrendo e que tentaram criar seus filhos da melhor maneira possível, mas as condições que lhe foram dadas lhes impossibilitaram dessa conquista e acabaram, contra a sua vontade, vindo a engrossar as estatísticas de famílias que todos os dias perdem seus filhos para o trafico e o crime.  

O grande problema é que muitos desses rapazes ao nascerem já encontraram um país injusto, sem políticas publicas sérias, com pessoas que morrem todos os dias nas filas dos hospitais por falta de assistência médica, com uma educação que exclui mais que inclui, professores que recebem salários vergonhosos, pessoas que constroem mansões e moram em barracos, e por outro lado temos políticos que causam escândalos, recebem salários altíssimos, e ainda desviam verbas da merenda, da saúde, da educação e nunca são punidos, não devolvem o que roubaram e quando são processados, usam o próprio dinheiro do povo para pagarem seus caros advogados, os processos se arrastam, e no final, mesmo com as “fichas sujas”, voltam a se candidatarem e assim prosseguem em sua jornada, convictos de que nesse País, manda quem pode e obedece quem tem juízo.  

Numa das últimas noticias que li, o jornalista registrou a maior preocupação do prefeito de Porto Seguro: a repercussão internacional do acontecido que certamente irá diminuir a quantidade de turistas nesse verão, uma vez que a cidade vive do turismo. Penso ser esse um dos maiores problemas do Brasil: A preocupação mais com a nossa imagem, que com nossos problemas. 

A verdade é que o prefeito de Porto não está só nessa. Estamos nesse momento nos aproximando da tão sonhada Copa do Mundo, e o que vemos é uma tentativa de mostrar ao mundo que somos um País seguro. É um tal de pacificação de favela daqui, é um constrói estádio de lá, mas no final, o sentimento que temos, é de que tudo isso não passa de uma tentativa de um mascaramento de nossa realidade, uma vez que nosso problema é acima de tudo estrutural, no entanto as mudanças necessárias que devem ser feitas nas nossas Leis, continuam sendo adiadas, porque simplesmente não atendem aos interesses dos nossos nobres partidos políticos.

O que podemos afirmar, no entanto, é que se depender dos nossos políticos, precisaremos de mais alguns séculos para que possamos realmente viver em “um Porto Seguro”, ou melhor, um Brasil realmente seguro. Então, impossível!

Bem se não há esperança nas classes políticas, o que fazer? Penso que só há uma saída, nossa politização. 
É preciso se perguntar, será que um político que gasta oito, dez milhões para se eleger prefeito de uma cidade, está bem intencionado?

Será que um candidato que gasta três, quatro milhões para se eleger vereador está comprometido com o povo?

 Será que um prefeito que diz que a educação do seu município tem qualidade, mas seus filhos estudam em escolas privadas, é sincero?

Será que um político acusado de desviar verbas, merece nossa confiança?

A verdade, é que enquanto houver pessoas dormindo na rua; enquanto houver famílias passando fome; enquanto houver crianças nos nossos semáforos; enquanto houver doentes amontoados nos hospitais, enquanto houver uma educação falida; enquanto houver professores com salários de vergonha; enquanto nossa justiça não mandar todos os corruptos políticos para a cadeia; enquanto houver pessoas sem moradia digna;  enquanto continuarmos elegendo como representantes pessoas que não enxergam nada alem do próprio umbigo; enquanto a novela, a cerveja e o futebol continuarem sendo as maiores paixões do povo brasileiro, ao invés do livro e da educação, não adianta reclamar, não adianta o esforço da polícia, não adianta a repressão, pois, inevitavelmente continuaremos impotentes, assustados, acuados, angustiados e assombrados, e tudo que nos resta e aprendermos a conviver em nosso “Porto In-Seguro”.