sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ENTRE PARASITAS E ABUTRES



Por G.M.Rocha


“ESSES REPÓRTERES SÃO UNS PARASITAS”. Assim se expressou um cristão evangélico que conversava comigo outro dia a respeito de uma matéria veiculada por uma emissora de TV que tinha como centro o resultado de uma série de investigações do MP sobre a liderança de uma suposta igreja evangélica, nas quais se constatavam diversas irregularidades e indícios de fraudes e corrupção, inclusive na forma de recolher e aplicar o dinheiro dos fieis.

Essa matéria causou grande escândalo e indignação em diversos cristãos sinceros que acreditam na verdade do Evangelho de Cristo, mas que nesse brasilzão de meu Deus, devido aos escândalos constantes protagonizados por supostos ministros de Cristo (inclusive escândalos de dar inveja na turma do Congresso), sofrem como se estivessem sendo pregados, por esses indivíduos, na horrenda cruz com o seu Cristo.

Ao ouvir essas palavras que expressavam a indignação daquele irmão com o que imaginava se tratar de uma perseguição de ímpios ao humilde povo do Senhor, respondi-lhe que aqueles repórteres não deveriam ser comparados aos parasitas, e sim aos abutres, e expliquei-lhe por que: Parasitas são os que matam o corpo, não os que se alimentam dele depois de morto. Esse é um serviço dos abutres.

Essa poderia ter sido mais uma dessas conversas que esquecemos rapidamente. Porem, durante vários meses tenho pensado na profundidade desse assunto, portanto pretendo analisá-lo aqui com mais carinho.

Em primeiro lugar, é necessário que se diga alguma coisa a respeito das funções dos parasitas e dos abutres. Sabe-se que existem varias espécies de abutres, que no geral são aves de rapina, sarcófagas, as quais se alimentam em sua maioria, de corpos em estado de putrefação, existiam em grandes quantidades na palestina e estavam na relação das aves imundas no Antigo Testamento (Levítico 11.14).

Os parasitas, por sua vez são de ordem animal ou vegetal que vivem retirando a seiva ou os nutrientes de outro ser. Alguns dependem do hospedeiro só por um período, outros vivem no hospedeiro por toda a vida; no geral, o parasita é sempre beneficiado e o seu hospedeiro sempre prejudicado, podendo, em muitos casos chegar à morte.  

Dessa forma, parasitas e abutres, longe de serem inimigos e adversários,  eles se completam.
O que há de abominável com os abutres, é que eles vivem sempre dependendo da morte de algo ou alguém para que se possa alimentar. A morte do outro é motivo de festa para ele. No geral ele não mata, mas espera que algo ou alguém morra.

Penso, no entanto que o parasita é um milhão de vezes mais abominável que o abutre, pois provoca a morte daquele que o alimenta. Ele é profundamente egoísta, não tem respeito, nem misericórdia, pois a única coisa que busca é a satisfação do seu insaciável e diabólico apetite.

Assim vejo a relação entre a igreja e a mídia brasileira. Quase que diariamente escândalos e mais escândalos no seguimento evangélico ajudam a aumentar as disputas por pontos tão almejados pela alienante e massificadora TV brasileira. Ao mesmo tempo, milhares de cristãos que amam verdadeiramente a Cristo, e milhares de lideres sinceros são afrontados diariamente por pessoas que os confundem com esses inimigos do reino, travestidos de ministros de Cristo, por não terem aprendido que existe diferença entre o joio e o trigo, apesar de se parecerem.

Apesar de tudo isto, penso que nossa maior preocupação não deve ser com a mídia (abutres) e sim com os parasitas (falsos lideres), pois esses, infiltrados nesse grande corpo que é composto pelas Igrejas Evangélicas Brasileiras, o agridem, violentam, sugam, debilitam, chucham, exploram, deploram-no e matam-no, ao mesmo tempo em que dele dependem e dele se alimentam.

Esses indivíduos não têm sede de justiça, mas de enriquecimento; não estão preocupados com tesouro no céu, e sim acumulo de riquezas na terra; não têm a preocupação com a pregação do reino de Deus, e sim a divulgação do seu prestigio pessoal; não estão preocupados em usar coisas para ajudar e salvar pessoas, e sim em usar pessoas para adquirir mais coisas; não vêem o evangelho como as boas novas de Cristo, mas como um produto mercadológico, o qual deve ser o mais atrativo possível aos numerosos e exigentes clientes (eles dizem fiéis).

Em uma situação como esta, como pode esse corpo não adoecer e não morrer? A igreja brasileira precisa urgentemente de remédio, necessita urgentemente da pregação sadia da palavra de Deus.

Portanto, quando os abutres (mídia) estiverem sobrevoando algum cadáver (instituição evangélica) não seria um bom negocio condená-los, pois, se eles fazem festa é porque antes de tudo os parasitas (falsos ministros) já cumpriram seu papel, matando o corpo que os alimentou.

 Antes de nos preocupar com a festa dos abutres (nossos inimigos externos) seria bem melhor se nos empenhássemos em detectar, desmascarar e combater os numerosos parasitas (que são nossos inimigos internos), pois sem parasitas, abutres dificilmente têm de que se alimentar.




Fonte das imagens:
Parasitas:  http://www.flickr.com/photos/phzioli/3196038971/lightbox/
Abutres: http://pt.dreamstime.com/abutres-que-deleitam-se-no-carrion-thumb8765519.jpg


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PORTO IN-SEGURO, UM RETRATO DO BRASIL

Por G.M.Rocha
             Fonte das imagens: http://www.google.com.br

Era início da tarde de quarta-feira, dia 30 de novembro, eu, minha irmã e minha sobrinha de cinco anos, estávamos voltando da cidade de Porto Seguro, saindo do bairro mais conhecido como Baianão em direção à rodovia de acesso a Eunápolis, quando nos deparamos com uma situação, que jamais imaginávamos aconteceria tão perto de nós e muito menos que algum dia iríamos conviver com tal episodio de terror. Estou falando da onda de violência ocorrida nessa cidade naquele dia.

Más o que isso tem a ver conosco? Muita coisa. Enquanto transitávamos por aquela rua sempre movimentada, não nos demos conta que naquele momento éramos os únicos transeuntes. Quando nos deparamos com um ônibus parado e um grupo de homens armados que gritavam muito. Inicialmente pensei que se tratava de uma blitz policial, em seguida pensei que se tratava de um assalto, assim não tentei qualquer reação, mas logo em seguida foi que contastei que aqueles rapazes iriam incendiar o ônibus, e isso aumentou o nosso desespero.

Pior, após terem jogado gasolina no ônibus jogaram o resto de combustível contra o nosso carro e em seguida atearam o fogo no ônibus. Ficamos no carro presenciando toda aquela ação, e tomados pelo desespero não podíamos fazer nada, pois minha preocupação era que eles interpretassem mal nossa reação e atirassem contra nós. Tivemos que esperar que eles se retirassem, e assim que começaram a fugir, saímos do carro e corremos pensando em nossa segurança, por imaginar que o fogo logo tomaria conta de tudo, mas o fogo foi crescendo de forma um tanto lenta, e logo as ruas se encheram de pessoas, foi que voltei ao local e tive tempo de tirar o veículo. Foram poucos minutos, mas que pareciam eternos.

Esse acontecimento que me fez naquele momento ter um sentimento de desespero, impotência e total inseguração, me fez ver de perto que nenhum de nós está seguro nesse Pais. Como também me uniu emocionalmente a milhares de brasileiros que pagam seus impostos, vivem honestamente, ajudam a construir essa nação, mas tem que conviver todos os dias com esse sentimento de impotência, com o medo, o desespero, a insegurança, e o pior, devido à situação de extrema corrupção da classe política, conviver com a falta de esperança de que algum dia teremos um País do qual possamos realmente nos orgulhar.

Porem, não quero desperdiçar esse momento em lamurias e lamentações, mas aproveitá-lo para refletir sobre a nossa situação e ao mesmo tempo pensar em possibilidades de mudanças reais.

Primeiro não quero discutir se Porto é realmente Seguro, ou se o Brasil é seguro, isso está aí prá todo mundo ver. Basta que se olhem as estatísticas, para se constatar que o brasileiro convive todos os dias com um alto índice de violência. As mortes no transito provocadas por motoristas bêbados e irresponsáveis, mortes por arma de fogo e outras armas letais, que colocam o Brasil em situação muito pior que muitos países que estão em guerra.

E o pior é que quase todo brasileiro trás em seu imaginário a crença infundada, ou melhor, fabricada, de que vivemos em um País pacifico onde não existem guerras, habitado por um povo feliz, ordeiro, hospitaleiro, e trabalhador, um povo guerreiro que não desiste nunca dos seus objetivos, um povo capaz de superar e vencer as maiores barreiras, e por aí vai...  

Mas a verdade é que existe um Pais real que é bem diferente desse País do discurso Político.  Desde o episódio, li algumas matérias, e percebi que o discurso da nossa mídia, no geral, tentou colocar toda culpa nos indivíduos que colocaram fogo naqueles ônibus, o que não consegui ver foram jornais que lidassem com a questão tentando analisar os fatores sociais e políticos desse acontecimento.

Como uma das pessoas que conviveu de perto com essa situação, fiquei a imaginar, por exemplo, que muitos daqueles jovens ainda não haviam nascido quando do nascimento da nossa tão sonhada Democracia. Não quero aqui defender suas ações, de forma alguma, mas dizer que esses rapazes não nasceram bandidos. Muitos de seus pais são pessoas honestas que com certeza estão sofrendo e que tentaram criar seus filhos da melhor maneira possível, mas as condições que lhe foram dadas lhes impossibilitaram dessa conquista e acabaram, contra a sua vontade, vindo a engrossar as estatísticas de famílias que todos os dias perdem seus filhos para o trafico e o crime.  

O grande problema é que muitos desses rapazes ao nascerem já encontraram um país injusto, sem políticas publicas sérias, com pessoas que morrem todos os dias nas filas dos hospitais por falta de assistência médica, com uma educação que exclui mais que inclui, professores que recebem salários vergonhosos, pessoas que constroem mansões e moram em barracos, e por outro lado temos políticos que causam escândalos, recebem salários altíssimos, e ainda desviam verbas da merenda, da saúde, da educação e nunca são punidos, não devolvem o que roubaram e quando são processados, usam o próprio dinheiro do povo para pagarem seus caros advogados, os processos se arrastam, e no final, mesmo com as “fichas sujas”, voltam a se candidatarem e assim prosseguem em sua jornada, convictos de que nesse País, manda quem pode e obedece quem tem juízo.  

Numa das últimas noticias que li, o jornalista registrou a maior preocupação do prefeito de Porto Seguro: a repercussão internacional do acontecido que certamente irá diminuir a quantidade de turistas nesse verão, uma vez que a cidade vive do turismo. Penso ser esse um dos maiores problemas do Brasil: A preocupação mais com a nossa imagem, que com nossos problemas. 

A verdade é que o prefeito de Porto não está só nessa. Estamos nesse momento nos aproximando da tão sonhada Copa do Mundo, e o que vemos é uma tentativa de mostrar ao mundo que somos um País seguro. É um tal de pacificação de favela daqui, é um constrói estádio de lá, mas no final, o sentimento que temos, é de que tudo isso não passa de uma tentativa de um mascaramento de nossa realidade, uma vez que nosso problema é acima de tudo estrutural, no entanto as mudanças necessárias que devem ser feitas nas nossas Leis, continuam sendo adiadas, porque simplesmente não atendem aos interesses dos nossos nobres partidos políticos.

O que podemos afirmar, no entanto, é que se depender dos nossos políticos, precisaremos de mais alguns séculos para que possamos realmente viver em “um Porto Seguro”, ou melhor, um Brasil realmente seguro. Então, impossível!

Bem se não há esperança nas classes políticas, o que fazer? Penso que só há uma saída, nossa politização. 
É preciso se perguntar, será que um político que gasta oito, dez milhões para se eleger prefeito de uma cidade, está bem intencionado?

Será que um candidato que gasta três, quatro milhões para se eleger vereador está comprometido com o povo?

 Será que um prefeito que diz que a educação do seu município tem qualidade, mas seus filhos estudam em escolas privadas, é sincero?

Será que um político acusado de desviar verbas, merece nossa confiança?

A verdade, é que enquanto houver pessoas dormindo na rua; enquanto houver famílias passando fome; enquanto houver crianças nos nossos semáforos; enquanto houver doentes amontoados nos hospitais, enquanto houver uma educação falida; enquanto houver professores com salários de vergonha; enquanto nossa justiça não mandar todos os corruptos políticos para a cadeia; enquanto houver pessoas sem moradia digna;  enquanto continuarmos elegendo como representantes pessoas que não enxergam nada alem do próprio umbigo; enquanto a novela, a cerveja e o futebol continuarem sendo as maiores paixões do povo brasileiro, ao invés do livro e da educação, não adianta reclamar, não adianta o esforço da polícia, não adianta a repressão, pois, inevitavelmente continuaremos impotentes, assustados, acuados, angustiados e assombrados, e tudo que nos resta e aprendermos a conviver em nosso “Porto In-Seguro”. 

sábado, 26 de novembro de 2011

UMA NOVA FORMA DE SE VENCER O DEVORADOR

Por G.M. Rocha

Vencer o devorador parece ser o principal objetivo da maioria dos evangélicos brasileiros. Esse inimigo das nossas “vitórias” exige – nesses tempos de tanta insegurança e instabilidade, de tantas mudanças rápidas próprias do nosso mundo pós-moderno ou da nossa modernidade tardia, como dizem outros – que tenhamos uma posição firme e uma atitude de fé para sermos cristãos triunfantes. Diante desse mundo capitalista e dessa sociedade de consumo só existe uma forma de mostrarmos às pessoas incrédulas de nossa geração porque devem acreditar em nosso Deus: triunfando economicamente.

Afinal, esse povo não quer saber de mensagem sobre salvação, arrebatamento, arrependimento, novo nascimento, humildade, amor ao próximo... Tudo isso é coisa do passado. Alimento para ignorantes e atrasados. Os pecadores precisam mesmo é ver “os sinais da benção de Deus” em nós. Afinal o que nos identifica como discípulos de Cristo, não é o amor ao próximo, virtudes cristãs, socorro aos necessitados, novo nascimento, e sim nossos carrões, casarões, roupas de grifes, rolex, tudo isso que antes era a marca de uma sociedade desigual a injusta, mas que agora descobrimos que era tudo ilusão de crentes ignorantes.
Acontece que apesar de hoje sabermos que necessitamos de tudo isso para nos tornarmos um verdadeiro testemunho de Deus aqui na terra, convivemos com um imenso obstáculo a ser superado, um terrível inimigo do povo do Senhor. Como se chama ele? Devorador. Isso mesmo! D-e-v-o-r-a-d-o-r.

Na verdade esse inimigo só se compraz em perseguir e atacar os servos do Senhor. No Japão, por exemplo, uma nação xintoísta e budista na sua maioria absoluta, não teve problemas com ele. Prosperou. Ah! Mas apesar de investir em educação, e do muito esforço, o que por sinal, não é bem o nosso costume por essas bandas, a verdadeira razão dessa prosperidade é que, como disse, esse tal de d-e-v-o-r-a-d-o-r só se compraz em perseguir e atacar o povo de Deus.

Bem, o certo é que muitos que vivem preocupados com essa tão séria questão encontraram diversas “formulas” para deter esse bicho infeliz. Se não, vejamos os seus sábios conselhos:

1.    Faça uma campanha da prosperidade;

2.    Seja fiel nos dízimos e ofertas (o que creio que devemos fazer mas por outros motivos. vejam abaixo);

3.    Certifique-se de que aquele que recebeu os seus pedidos de oração esteja disposto a queimá-los em um monte muito alto, de preferência no Sinai, onde inevitavelmente estará bem mais perto de Deus;

4.    Faça um sacrifício financeiro: vale tudo, desde vender casa, carro, dar cheque pré-datado, cartão de crédito... No começo você pode até ficar mais pobre, mas no final (sabe-se lá quando) você não vai ter onde guardar as bênçãos...

Foi então que pensando muito nesse tão importante assunto que no barulho do meu velho computador, depois de alguns anos de estudo do Novo Testamento e analise da nossa sociedade, que percebi algumas formulas para um viver vitorioso, e ai vão elas:

1.    Estude, estude muito, prepare-se para ser um bom profissional, ou empreendedor;

2.   Entenda que no nosso mundo a principal causa da pobreza está no mundo físico: políticos corruptos que desviam as verbas, injustiça e desigualdade social, falta de capacitação profissional, capitalismo predatório, falta de amor e respeito ao próximo, e isso exige muito esforço para os que querem se erguer social e economicamente;

3.    Proteja sua mente de falsas crenças a respeito de Deus. Se existe de fato um devorador dos bens dos Cristãos porque nem O Senhor nem os Apóstolos nos disseram nada a respeito? Os Cristãos do Novo Testamento contribuíam não para se alcançar privilégios diante de Deus, ou alguma vitória contra o devorador, e sim para a expansão do evangelho e socorro aos necessitados, o que na atualidade a avareza e o individualismo nos impedem de fazê-lo. (At cap. 1-6; ICo cap. 9; II Co cap.8,9). Cuidado! O devorador pode estar no púlpito!

4.    Lembre-se que a única garantia que o Senhor nos deu para nossa vida na terra foi de suprir nossas necessidades básicas à vida (Mt 6. 25-34), ainda que não nos tenha dado nenhuma proibição quanto ao crescimento econômico.

5.    Por último, temos os conselhos dos economistas: cuidado com o CONSUMISMO! pois, aqui está a nossa maior causa de endividamento, esse sim, pode ser um devorador. Faz que gastemos mais do que ganhamos.

No mais, pode ir à igreja e adorar a Deus tranquilamente, pois o que precisamos mesmo não é que Deus nos livre de um suposto d-e-v-o-r-a-d-o-r de bens perecíveis, mas de termos uma alma totalmente segura de que nasceu de novo e já experimenta uma nova vida em Cristo. Quanto as questões econômicas, poderemos com muito trabalho, esforço, inteligência, economia do que ganhamos, conquistar, sabendo que iremos usufruir disso só por um breve momento, pois a nossa verdadeira habitação está no céu, “donde também esperamos o nosso senhor Jesus Cristo” (Paulo). Amem! No mais, Tudo na santa Paz.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Porque Eu Odeio Religião Mark Driscoll

Nesse vídeo, em apenas dez minutos, é possível ter uma ideia interessante do que venho tentando dizer em minhas pregações, e que há muito tem sido dito por milhares de pregadores nos dois mil anos de História Cristã. Perceber a diferença abismal que há entre fé cristã e mera religiosidade é, simplesmente, ter uma visão privilegiada da vontade de Deus sem os filtros dos interesses humanos de dominação. Ser Cristão é muito mais que ser religioso... Que o maior número de Cristãos vejam esse Vídeo

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

QUANDO O MINISTÉRIO SE TORNA UM MAL...
Por G.M.Rocha
I Epistola de Pedro 5.1-4.
Inicialmente é preciso que antes de tudo se faça saber que não considero que o ministério seja algo desnecessário à igreja. Tenho como base do meu pensamento alguns textos do Novo Testamento onde os nossos estimados escritores deixaram registrados de forma muito clara e inconfundível qual a importância daqueles que trabalham pela santa causa do Evangelho de Cristo. Jesus Cristo, o maior exemplo de liderança em todos os tempos, investiu todo o seu tempo de ministério no treinamento de alguns homens, tendo como propósito imediato a edificação da igreja que seria formada logo após seu retorno aos céus e, ao mesmo tempo, visando o avanço de sua mensagem de esperança até os confins da terra.
Durante o primeiro século, sob a orientação desses homens extraordinários (e ao mesmo tempo com as mesmas fraquezas e paixões que nós), a igreja permaneceu coesa, irredutível, incorruptível, imbatível, tornando-se uma força tão poderosa e irresistível que como uma avalanche, varreu cidades inteiras fazendo recuar o mal por onde passava e onde chegava, ao ponto de, saindo dos lugares pobres da Judéia, chegar aos lares ricos de Roma. Para mim, está claro: Deus escolhe pessoas em todas as épocas para fazê-las cumprir seu propósito na terra, que é a evangelização e a edificação do seu corpo, a igreja.
Uma simples olhada, no entanto, no nosso sistema de ministério atual é o bastante para se perceber que há muito estamos nos distanciando do verdadeiro propósito de Cristo, quando deu à sua igreja pastores, evangelistas, apóstolos, mestres e profetas, e esse distanciamento diz respeito a alguns fatores que foram invertidos principalmente no mundo pentecostal e neo-pentecostal, conforme se observa no Brasil.
Em primeiro lugar, está o relacionamento obreiro-igreja. Na maioria dos casos, esse relacionamento se dá por meio de um principio que estabelece um nível de tratamento hierárquico, estando a igreja, no entanto inferior em ralação ao obreiro. Daí a maneira arrogante com se porta grande parte desse contingente de supostos representantes de Cristo. Vendo a si mesmos como superiores, tiram da congregação todo o direito que tem de pensar, questionar a legitimidade de sua autoridade e autoritarismo, seu direito de escolha, e passam a ditar todo tipo de regra, fazendo com que cada pessoa seja vigiada, controlada, subjugada, ficando assim totalmente imobilizada, sem condição de defesa, presa dentro de um esquema castrador, alienador, onde a única salvação não é o crer unicamente em Cristo, mas a subordinação absoluta àquele que se diz seu legitimo representante na terra.  Aqui, se invertem os fatores, uma vez que Jesus jamais planejou a sua igreja como sendo um grupo de vassalos que deve se subordinar de forma inconseqüente e incondicional a quem quer que seja.
Se analisarmos de perto o pensamento de Cristo a esse respeito, vamos ver que ele considerou esses tipos de líderes como sendo impostores, e nunca como seus representantes.  Num dos seus clássicos exemplos, Ele pergunta: “quem é maior, o que serve a mesa ou o que é servido”? A resposta é obvia: o que é servido, naturalmente. Se o que é servido é maior, então nos vem outra pergunta: qual a função do obreiro em ralação à igreja, Servir ou ser servido? Mais uma vez a resposta é muito clara: SERVIR. Se então a função do obreiro é servir, como pode o mesmo, de acordo com a lógica de Cristo ser maior que a igreja?
Partindo desse pressuposto, o que se impõe sobre cada obreiro é a responsabilidade de ver a si mesmo apenas como um servo humilde de Cristo, a quem foi dada a responsabilidade de aperfeiçoar sua igreja, levando-a ao amadurecimento, preparando-a como uma noiva para seu esposo. E o principio aqui estabelecido é de responsabilidade e serviço. Nada de estabelecer regras, as regras já foram estabelecidas pelo seu Senhor; nada de se colocar como superior, isso seria um ultraje ao seu Senhor, A CABEÇA E NOIVO DA IGREJA. O que se espera então de cada obreiro, é que esse observe com muito cuidado as instruções dadas por Cristo e seus apóstolos, para que com toda fidelidade – sem acrescentar ou diminuir uma vírgula ou um til – possa transmiti-las à igreja, fazendo-a conhecer a completa vontade de seu Senhor, para que possa viver no centro de sua vontade, mantendo assim a verdadeira esperança de poder encontrá-lo no dia de sua gloriosa vinda.
Um exame da primeira epistola de Pedro, vai mostrar que a relação obreiro-igreja, era uma de suas maiores preocupações. No capitulo cinco, ele estabelece três nãos que creio, devem nortear o pensamento de cada obreiro em cada época, sem nenhuma delimitação temporal ou espacial. A não observância dessas advertências com certeza transformará obreiros em instrumentos de destruição da fé.
Em primeiro lugar ele diz: “não por força”. O que Pedro entendia, era que nenhum obreiro deveria fazer algo para Deus, tendo isso como uma insuportável obrigação, à qual se pudesse de alguma forma escapar o faria com certeza. Convicção da chamada e desejo de entrega voluntaria, deveria ser as forças motivadoras de cada servo que quisesse se entregar ao serviço do ministério.
No nosso caso, é comum, encontrarmos pessoas no ministério, motivados apenas por duas forças. Primeiro, um medo infundado de ser punido por Deus, caso não continue no ministério. Por ultimo, a falta de capacidade de ganhar um salário compatível, caso tenha que deixar o ministério. Nesse caso, não existe nem convicção da chamada, nem voluntariedade, (o que deveria levar tais pessoas a forçosamente rever suas verdadeiras motivações ou abandonar o mais urgente possível o ministério). Pelo que vemos, no entanto, parece ser mais fácil se atravessar o atlântico num barco de papel, que isso vir  a acontecer, o que é uma pena pelo prejuízo que tal comportamento tem causado, tanto à igreja como à sociedade em todos os tempos.
Ainda, Pedro cita o seu segundo não: “não por torpe ganância”. Ou seja, que nenhum servo a quem foi dada tal responsabilidade coloque o lucro como fonte motivadora de suas ações como o fazem os capitalistas na atualidade. Que nenhum obreiro olhe para cada pessoa a quem Deus lhe confiou, tendo um cifrão em cada olho.
Na verdade, o fator finanças tem sido em todos os tempos o ponto sensível do cristianismo. Desde o dia dos apóstolos, a possibilidade de lucro fácil tem sido o mel da atração de abelhas e moscas no reino de Deus. A forma massificadora com que nos dias atuais, as pessoas são instruídas a usarem o dinheiro como forma de obterem alguma graça diante de Deus desde sua conversão, acaba por lhes tirar todo poder de defesa diante daqueles que vêem na igreja uma possibilidade de lucro fácil e certo, e uma possibilidade de rápido enriquecimento. Pedro, sabendo dessa vulnerabilidade do povo que crê, advertiu os crentes de sua época, “por ganância farão de vós negocio, com palavras fingidas”.
Quando damos uma olhada na história da igreja nesses dois mil anos percebemos o quanto essa advertência precisa ser levada a sério por cada crente ainda hoje. Nos nossos dias a ganância não tem limites. Basta que se observe que a maioria das igrejas pentecostais é composta de pessoas da classe trabalhadora, no entanto muitos líderes de igreja recebem salários bem maiores que o da Presidência da Republica, justificando essa atitude escandalosa com textos extraídos das sagradas escrituras, sem levar em consideração todo o seu contexto, e o pior, é que essas pessoas, quando lêem textos como esse que citei, fazem vista grossa, como se não lhes dissessem nenhum respeito.
Aqui na Bahia, por exemplo, temos vários líderes assembleianos “pastoreando” igrejas onde a maioria das pessoas que as freqüenta é composta por pessoas que ganham no máximo dois salários por mês, (para pagar água, energia, aluguel muitas vezes, entre outros), e, no entanto, esses líderes recebem em média 20, 25 e até mais de trinta salários mensais livre de água, casa, carro, combustível, viagens e outras coisas mais e ainda acham isso a coisa mais natural, pois afinal são os “ungidos do Senhor”. 
O pior de tudo é que diante de todos esses desmandos se encontra um povo submisso, manipulado, subjugado, dominado, alienado, paralisado, que perdeu – se é que algum dia teve – toda condição de se indignar e reagir diante desses absurdos. Por outro lado existe um ministério local passivo, dormente, hipócrita e inconsequente que aprova essa atitude promíscua que na maioria das vezes nem chega ao conhecimento do povo pelo simples fato de muitos desses que compõem tal ministério, viver a sonhar com o dia em que também alcançarão tal posto “honroso”, ou por temer – o que é mais real – serem preteridos ou perseguidos como “rebeldes” e inimigos do pastor. Enquanto isto, a igreja de Cristo vai se desgastando na nossa “pátria amada idolatrada” e criando uma multidão de desiludidos com a fé (como se não bastasse os desiludidos com os políticos e a politica), ao mesmo tempo em que nossos “ungidos” vão vivendo, ao contrário dos santos Apóstolos, a vida de "príncipes do Senhor" acumulando de forma lastimável seus tesouros terrenos, pois, afinal de contas, é preciso mostrar para esse mundo que nem sempre é possível confiar em promessas além túmulo.
Assim, por detrás de um discurso moralista – na maioria das vezes – esses lobos travestidos de ovelhas, ou melhor, pastores, ignoram o quanto sua ganância tem sido letal para essa geração que começa a viver. Me lembro de que há algum tempo ouvi pessoas não evangélicas indignadas com o que perceberam antes de nós, nos confrontar dizendo uma frase interessante “pequenas igrejas, grandes negócios”. Esse jargão, criado a partir de outro de um programa voltado para a classe empresarial que dizia “pequenas empresas grandes negócios”, ganhou uma conotação negativa, e, foi encarado por mim como mais uma forma de perseguir o povo do Senhor, hoje porem vejo que na realidade, devido nossa paixão religiosa, por muito tempo, fechamos os olhos para uma questão tão séria e tão escancarada que até mesmo os não crentes já estavam cansados de perceber. Talvez alguém me encare como mais um perseguidor gratuito, porem o que busco não é destruir a obra de Deus no nosso País, e sim, contribuir de alguma forma para que a igreja brasileira volte a ser pastoreada por homens que não se acostumaram a confundir a igreja com uma empresa, o púlpito com o balcão, a mensagem com uma mercadoria, nem o povo com consumidores. Que os gananciosos que querem fazer “negocio de vós” sejam desmascarados, para que o nome de Cristo seja em tudo exaltado, pois afinal os homens de Deus, devem pastorear o rebanho de Deus "Não por torpe ganância", diz Pedro. Amem!



(o último "não" ficará para a próxima postagem)